quarta-feira, 11 de junho de 2008

Esse mito da Classe Média...

Ainda ontem, numa troca de e-mails com a minha Mãe, no fim de uma mensagem sobre os esforços que se fazem todos os dias para esticar a corda, a minha Mãe terminou o e-mail da seguinte maneira...

E viva a classe média!
Beijos grandes
Mãe

Ora, antes de mais, obrigado pelos beijos Mãe. Mas... o que é isso? Sim, o que é isso de... Classe Média?

Dei-me ao trabalho de procurar o que significa esse conceito, na maior fonte de plágio universitário, a Wikipédia. Segundo esta, a classe média "é uma classe social presente no capitalismo moderno que se convencionou tratar como possuidora de um poder aquisitivo e de um padrão de vida e de consumo razoáveis, de forma a não apenas suprir suas necessidades de sobrevivência como também a permitir-se formas variadas de lazer e cultura (...)"

Até aqui tudo bem... Mas vamos então lá tentar enquadrar este conceito na sociedade Portuguesa. Tomemos como exemplo um indivíduo do sexo masculino, solteiro, que aufere o ordenado médio, que por estes dias ronda os 600 euros mensais. Já nem vou colocar aqui o handicap de ser jovem licenciado, porque aí então estaria no desemprego, a ir "beber" dos 1200 euros dos pais... A não ser que fosse filho do Jardim Gonçalves.

"possuidora de um poder aquisitivo e de um padrão de vida e de consumo razoáveis"
Alguém me explica como alguém paga a sua alimentação, renda de casa (seja arrendada ou crédito à habitação), água, gás, electricidade, prestação de carro (por mais "chaço" que seja), combustível para se deslocar, ou pelo menos, gozar do uso do carro, e ainda consegue manter um padrão de vida e de consumo razoável?

"de forma a não apenas suprir suas necessidades de sobrevivência como também a permitir-se formas variadas de lazer e cultura
"
Ora, com 600 euros mensais, e tudo o resto dito em cima por pagar, e ainda com um nível de vida e consumo por manter, como é que ainda sobra um cêntimo que seja para "formas variadas de lazer e cultura"?

Posto isto, caros leitores, eu pergunto: onde andas tu, Classe Média, sua marota?

3 comentários:

KaRapinha disse...

Por alguma razão, têm surgido termos como "o país ta de tanga" ou "apertar o cinto", justamente pra eliminar a parte do lazer e cultura, da diversão (ainda que eu pense que se pode ter lazer e diversão com imaginação e saindo um pouco da "sociedade normal", mas isso depende dos gostos)
Tudo isto demonstra que quem nos gere até tem noções de Classe Média, afinal eles não são burros, a questão essencial e que tu não abordaste foi: porque é que tem que ser o povo a abdicar da parte da diversão, limitar-se a sobreviver, e não os politicos com os seus ordenados brutais??!

Ferrao disse...

Não abordei a questão que colocaste, porque era aí que queria que os leitores chegassem implicitamente.

O povo também tem que fazer os seus sacrifícios, é um facto. Agora, não pode ser só o povo a fazê-los. Se todos querem melhorar, todos têm que se sujeitar a abdicar do que é supérfluo em hora de necessidade.

E pior que isso, é que esta classe política não reconhece os sacrifícios que o povo já fez. O Barroso em 2002 declarou mesmo que estávamos de tanga e tínhamos que apertar o cinto. Bem dito, bem feito. 6 anos e 2 Governos depois, quem reconhece o esforço que temos feito, e continuamos a fazer? Só nós, uns entre os outros. O povo, e em especial a ex-Classe Média, teve que abdicar desse mesmo estatuto, em prol do País. E com esse sacrifício em particular, ganhámos um novo Aeroporto, uma linha férrea de alta velocidade, 10 Estádios de Futebol... E o resto?

Um abraço Karapinha.

Anónimo disse...

qual classe média qual qué...
Há muito que não existe classe média em Portugal...

ASS: Jaimemgon